Igreja Católica Ortodoxa Sérvia em
Caruaru
Ah, o Oriente...!
Quanta especulação em torno deste conceito, desta região do globo, não? Quantas
saudades nossa jovem civilização ocidental acalenta do distante Oriente tão
cheio de mistérios. Sim! Também a Igreja cristã nasceu ali. As Sagradas
Escrituras nos contam em um de seus livros históricos – os Atos dos Apóstolos –
que foi em Jerusalém, atualmen
te a capital religiosa do Estado de
Israel, que os santos apóstolos, enviados e ordenados por Cristo, começaram a
evangelização do mundo chegando, mais tarde, a Grécia e consolidando finalmente
o cristianismo na própria capital do Império Romano, de então, a famosa cidade
de Roma.
É por isso que nós,
cristãos ortodoxos, sempre procuramos trazer à memória o fato de que, apesar
das configurações assumidas pelo cristianismo no Ocidente, foi no Oriente
Ortodoxo que tudo começou. Mas, por que a Igreja no Oriente ainda passaria a
ser chamada de Ortodoxa? Em que ela se diferencia do cristianismo ocidental?
Por que está chegando, pouco a pouco, ao ocidente? Eis, então, três perguntas
relevantes.
A primeira delas se
relaciona ao idioma usado pelos apóstolos e pelas primeiras gerações cristãs
para se comunicarem. O grego era a única língua comum aos habitantes do
Império, pois o próprio latim não era falado na maior parte das regiões e
províncias. Neste idioma havia um verbo com o qual as pessoas na Igreja
designavam aqueles que professavam a reta doutrina dos primórdios da fé, os
ensinamentos apostólicos originais. Tratava-se do verbo “ortodoxazéin” que
significa ‘usar corretamente’, ‘manejar bem’ ou ‘proceder retamente’. Ao
referido verbo correspondiam o substantivo ‘ortodoxia’ e o adjetivo ‘ortodoxo’
que diziam respeito àqueles que, dentro da Igreja, professavam a reta doutrina,
usando-a corretamente em toda e qualquer circunstância e procedimento. Em
poucas palavras, um cristão que cria e andava de maneira reta no seio da
Igreja.
Assim, quando
grupos saíam da Igreja por questões de fé e doutrina não mais podiam ser
chamados ou se auto-intitular como ortodoxos. Foi, então, essa a razão para os
bispos do Oriente cristão terem sido automaticamente chamados de ortodoxos
quando aconteceu a ruptura do Bispo de Roma – conhecido como Papa – com a
comunhão das igrejas cristãs que, desde da era apostólica, estavam estabelecidas
na porção oriental do Império Romano.
A segunda pergunta,
então, procura identificar as diferenças entre Oriente Ortodoxo e Ocidente
Romano. Neste sentido, já se pode perceber que uma das principais diferenças
reside na forma como encaram o papado. Para nós, ortodoxos, o papa é
reconhecido como líder da Igreja, se e somente se, retornar à Ortodoxia da
Igreja. Ele não precisaria voltar às Igrejas Ortodoxas no Oriente, pois ele é o
patriarca do ocidente cristão e continuará a ser respeitado como tal. Caso,
porém, volte à Ortodoxia da Igreja como expressa por seus primeiros concílios,
retomará automaticamente a Primazia na Igreja.
Mas, em que pontos
mais evidentes o papado foi ao longo dos séculos se distanciando da Ortodoxia
da Igreja, segundo o Oriente cristão ortodoxo? Aqui, a resposta passa por três
ênfases: (1) a experiência do Espírito Santo dentro da Ortodoxia que faz
gravitar em torno da vida espiritual do clero e dos fiéis todas as realidades
na Igreja; (2) a continuação da antiga pratica da Igreja em permitir aos seus
padres o casamento (pois, segundo a Ortodoxia, não há incompatibilidade entre
os sacramentos do matrimônio e o sacerdócio); (3) a conservação sem alterações
da forma do culto cristão como legada pelos apóstolos e praticada pelas
primeiras gerações cristãs, principalmente no que diz respeito à forma do rito
eucarístico. A esse respeito, para a Ortodoxia, nunca houve outro modo de
preservação dos valores espirituais e culturais da Igreja. Aí estão, então, os
três principais fatores que ocasionam o distanciamento entre o ocidente – papal
ou protestante – e o oriente ortodoxo.
Terceiro, resta-nos
responder a respeito do motivo que tem levado as Igrejas Ortodoxas a crescerem
no ocidente. É muito temerário falar sobre isso, mas talvez um bom palpite
resida em certa crise espiritual de fé sem precedentes que experimentam as
inúmeras propostas de cristianismo no ocidente e em uma lacuna enorme aberta
pela modernidade entre a fé e a vida em meio à civilização ocidental.
No primeiro caso,
percebemos a redescoberta da espiritualidade ortodoxa como grande alternativa
não só à ausência de espiritualidade no ocidente denunciada por tantos que
afluem à nossa Igreja, mas também pela confusão de espiritualidades e teologias
que fragmenta ainda mais a tão fragilizada cristandade ocidental, assim como os
diversos grupos dela provenientes.
No segundo caso, o impacto da
modernidade em seu alto teor de racionalismo, cientificismo, secularismo e
liberalismo ainda não permite ao ocidente achar seu próprio caminho que,
segundo seus principais expoentes, deve ser reencontrado em algo novo a ser
descoberto pela Igreja, e não mais na antiga Ortodoxia cristã dos primeiros
concílios feita nova a cada geração em meio aos países e culturas ortodoxos até
os nossos dias.
À parte de tais
questões conjunturais, o fato novo reside em que a antiga Ortodoxia cristã,
portanto, está chegando em nossa doce cidade de Caruaru. Não somos
proselitistas. Não pretendemos invadir a privacidade de quem quer que seja,
principalmente dos grupos religiosos locais. Nem mesmo nos imaginamos como um
forte e poderoso rebanho numericamente expressivo.
Tão somente, somos
alguns poucos em nossa cidade (alguns residentes, inclusive, em outras cidades)
que procuram manter a antiga Ortodoxia da Igreja – a fé apostólica das origens
cristãs. Tão somente pretendemos ocupar um espaço desejado por alguma lucidez
espiritual que esteja vicejando em nossa cidade. E, tão somente nos imaginamos
como opção por aquela santidade pertencente à Igreja em todos os séculos e, sem
a qual nenhum esforço ou ativismo religioso possui sentido algum para nós.
Estamos
provisoriamente nos reunindo para (1) orações durante a semana nos lares dos
fiéis, para (2) a celebração de Vésperas do Santo Domingo na residência do Pe.
Jário Carlos S. Jr., responsável pelas Paróquias Ortodoxas de São João
Crisóstomo em Caruaru e da Transfiguração do Senhor em Belo Jardim, assim como
para (3) a celebração da Divina Liturgia da Santa Eucaristia no primeiro
Domingo de cada mês nas instalações do ‘Colégio Sagrado Coração’ e no segundo
Domingo em uma capela dedicada ao santo sérvio São Symeon de Dajbabe na região
rural de nossa cidade e no terceiro Domingo em Belo Jardim.
Pe. Jário Carlos S. Jr.
Igreja Ortdoxa Sérvia no Brasil
Diocese de América do Sul e Central
Dom Amphilohije Radovitch
Metropolita de Montenegro
Nenhum comentário:
Postar um comentário