segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Homilia

EVANGELHO DO DOMINGO: A Parábola do Rico Insensato

 

 

 

O Evangelho deste Domingo nos ensina que a segurança e conforto proporcionados pelos bens deste mundo não constituem a verdadeira felicidade. Jesus propôs esta parábola com a finalidade de advertir contra a fugacidade, a vulnerabilidade, a transitoriedade dos bens que adquirimos mediante nosso esforço e galhardia, pois nossos empreendimentos profissionais podem muito bem estar encharcados de avareza, ou seja, de amor ao dinheiro e ao status e condição que ocasiona e proporciona.

 

Aquele homem da parábola é visto em sua administração, não dos poucos recursos que possuía, mas dos muitos bens que havia adquirido. Administrar com pouco dinheiro é o grande desafio, mas administrar os muitos bens que porventura se tenha, eis aquela facilidade que nos expõe a tentação de nos acomodarmos a segurança e conforto proporcionados pelo nosso suado dinheiro, pelos nossos bens, posses e acúmulo financeiro.

 

Foi em tal situação que a insensatez daquele homem rico se manifestou, como acentuou Jesus por meio daquela parábola. Foi exatamente quando seus celeiros e depósitos estavam transbordando que afirmou para si mesmo: "Alma, tens em depósito muitos bens para muitos dias. Descansa e aproveita toda esta farta situação!". É, então, que Deus aparece! Precisamente no momento em que a acomodação à segurança e ao conforto se torna uma realidade consumada. E o que afirma categoricamente: "Louco, hoje mesmo te pedirão a alma. E o que tens preparado? Para quem será?"

 

A esse respeito, São João Crisóstomo tem muito a nos dizer, pois conheceu um agudo discernimento em meio à mais alta corte de seu tempo – a corte imperial bizantina, a sede do mundo cristão, o topo do poder estabelecido que o convocou ao patriarcado ali em Constantinopla. Ali, ele foi inflexível com clérigos e leigos que se acomodavam ao acúmulo das vantagens da corte, pregando em seus sermões contra a motivação dos funcionários do Imperador, os quais se entregavam à uma total dedicação ao Império, tanto mais quanto experimentavam as vantagens e lucros que tinham como justa recompensa.

 

A esse respeito, contrapunha o ideal cristão ao ensinar: "Nós, porém, não trabalhamos por dinheiro ou pela posse de terras, mas unicamente para a aquisição de bens eternos". E logo em seguida, pergunta retoricamente: "Quem me livrará de minha fraqueza e indolência?", como para conscientizar de que são as fraquezas humanas, o cuidado excessivo com o corpo e o atendimento de nossos próprios interesses que, tantas vezes,  tornam as pessoas preguiçosas e indolentes na aquisição da única felicidade verdadeira que é, indubitavelmente, a aquisição da virtude e o envolvimento com a santidade.

 

Na verdade, só existe uma tragédia neste mundo que é a de não sermos santos, cheios de virtudes, dos bens eternos, a de não sermos ricos para com Deus. E incorremos no mesmo projeto do rico insensato da parábola do Mestre: ser rico para si mesmo e não para com Deus na opção que imperceptivelmente fazemos em procurar diligentemente as riquezas transitórias e indolentemente aquelas que são eternas.

 

Tais riquezas não garantem a estabilidade do que possuímos, mas nos confrontam com a instabilidade do que somos diante de Deus, pois só no reconhecimento de nossa viciada dependência em relação às realidades materiais é que poderemos nos desprender em direção ao Único que realmente não muda, Àquele que é o mesmo ontem, hoje e eternamente.

 

Tais riquezas, de fato, não nos asseguram o conforto que o nosso corpo e condição reclamam, mas nos põem em contato com um ideal no qual, sobretudo nesta Quaresma da Natividade que se inicia, os nossos corpos serão apresentados a Cristo como um "sacrifício vivo, santo e agradável" a fim de que em tudo "nos conformemos à Sua morte" e nossa morte verdadeira, único lugar onde é possível oferecer o culto eucarístico sobre a terra – a intimidade de um coração que experimenta a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus".

 

 

Pe. Jário Carlos S. Jr.

1º. Domingo da Quaresma da Natividade do Senhor

Paróquia São João Crisóstomo

Igreja Ortodoxa Sérvia no Brasil

Dom Amphilohije Radovitch

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