terça-feira, 17 de abril de 2012

Mensagem

Eis, um Vento do Oriente a Submergir
os Navios de Mamom!
                Que expressão significativa! Quanta poesia! Parece que é somente assim que a ternura litúrgica supera a amargura do viver. Bem assim, se encontrava o salmista. Evocando o "santo monte" em que o ritual era celebrado, parece perceber a conexão entre devoção e destino ao assinalar em sua canção que toda coligação inimiga é espantada e foge apressada ante o "terror" do Senhor que venceu os reis da terra. Mas, como isso se dá?
A resposta é uma poesia que canta a derrocada de toda economia soberba e opulenta ao melodiar "Com vento oriental destruíste as naus de Társis". A partir deste momento, o salmo volta o seu foco para a cidade e o templo do Senhor como estando em festa, afinal será conservada intacta, sua imperecibilidade perpassará as gerações. E ainda que morramos um após outro, desde Sião, este Deus será o nosso guia para sempre.
                É poesia demais! Aparenta até utopia! Mas, como não? Seria apenas a política do antigo oriente abalada com o naufrágio dos navios de Társis, a nação comerciante por excelência daqueles dias? Não! Nas profecias de Ezequiel, o futuro poderia ser aguardado como uma inundação originada a partir do templo restaurado. Tal inundação recapitularia toda sequidão nacional reconduzindo tudo, pela sua força, ao paraíso perdido – Ez. 47. Sim! Toda a terra novamente revitalizada, exceto pelas partes do mundo em que as redes dos pescadores permaneceriam em um "enxugadoro", à semelhança do que haveria de ocorrer com a nação de Tiro, de onde procediam os navios de Társis. Curioso é notar, que na profecia, a abundância dos peixes estaria circunscrita ao Mar Morto, onde anos antes as cidades de Sodoma e Gomorra haviam fenecido. Enquanto é profetizado ao vento para que venha dos quatro cantos da terra a fim de ressuscitar o povo de Deus desconjuntado, levantando-o em unidade – Ez. 37, o salmo aponta para o vento oriental, procedente do Éden, assim como os rios do paraíso, vento que destrói os navios da Társis, símbolo e instrumento da escalada comercial mais colossal da antiguidade. O salmo e a profecia não estariam prenunciando o desmoronamento de todo poderio político que, na história dos homens, se arvora sobre a justiça, a honestidade, a simplicidade e a candura do povo de Deus por meio das tecnologias mais avançadas que favorecem o comércio ao mesmo tempo em que queimam incensos contemporâneos a Mamom?
                Outra vez, porém, é do Oriente que vem a destruição da iniqüidade, pois não somente de lá nos veio o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, mas também de lá, o Vento que sopra onde quer, nos vem em uma corrente revitalizadora a trazer saúde para tudo o que toca. O Vento, que procede unicamente do Pai, continua a restaurar a sua Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, permanece a submergir as naus do Império de Mamom ainda hoje. E, enquanto o excedente econômico transforma-se mais e mais em um enxugadouro de redes, a Igreja em sua Ortodoxia preserva a doutrina da Trindade tal como nos foi legada – o Pai, origem única, o Filho, gerado do Pai, e o Espírito Santo, que procede do Pai.
Dessa forma, a autonomia do Espírito é o que sustenta a nossa fé e a nossa vida quando as naus de Társis nos assediam em pleno século vinte e um. Não precisamos, enquanto Igreja ordenada por Cristo, assumir temporalmente as rédeas do mundo a fim de cumprir a missão espiritual que o Filho nos legou. Mas, o cumprimento de nossa missão, enquanto Igreja verdadeiramente Ortodoxa, está relacionado à vinda epiclética do Espírito Santo a fim de que, finalmente, um vento do oriente submeta os navios da economia capitalista aos mesmos oceanos sobre os quais, desde a Criação do mundo, o Espírito Santo paira e aquece todo o globo, preparando-o para a Palavra recriadora da nova humanidade planetária, cósmica e, sobretudo, pneumática.

Jairo Carlos – Primavera/2006

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